terça-feira, 29 de junho de 2010

Síndrome do Pânico

O transtorno do pânico dificilmente é diagnosticado logo. Seus sintomas podem confundir com uma variedade de problemas médicos, o que atrasa seu diagnóstico já que a pessoa procura várias especialidades diferentes e realizam muitos exames, às vezes durante anos.

Porém, uma vez diagnosticado, o TP é perfeitamente tratável.

O TP é caracterizado por um conjunto de ataques de pânico acompanhados por uma série de sintomas que inclui ao menos 4 destes:
- palpitações / taquicardia
- dores no peito
- náusea
- dificuldade de respirar (sensação de sufocamento, hiperventilação)
- ondas de calor ou frio
- sudorese intensa
- formigamento ou adormecimento nas extremidades do corpo (pés e/ou mãos)
- sensação de estar sonhando ou distorções perceptivas
- medo de perder o controle
- medo de morrer, sensação de morte súbita
- sensação de que alguma coisa terrível vai acontecer

Esses ataques são tipicamente espontâneos, sem nenhum fator desencadeante aparente, e duram em geral alguns minutos, embora para quem sofre pareça uma eternidade, não costuma passar muito disto.

Muitas pessoas com transtorno do pânico desenvolvem medos de situações que elas associam aos ataques e começa a evitá-las, podendo tornarem-se muito limitadas em sua capacidade de desenvolver atividades normais (fazer compras, viajar, ou mesmo sair de casa - agorafobia)

Pessoas com TP podem também sofrer de depressão, dependência de drogas, transtorno obsessivo-compulsivo ou síndrome do cólon irritável, cerca de 20% tentam suicídio, de acordo com estudos.

Ao sentir alguma alteração em seu corpo a pessoa reage com ansiedade. A ansiedade produz um conjunto de reações fisiológicas que são naturais desta emoção como taquicardia e aceleração da respiração. Porém a pessoa com Pânico tende a interpretar estas reações como se elas fossem perigosas - sinal de doença, de catástrofe iminente. Estes pensamentos catastróficos acabam por produzir mais ansiedade, o que por sua vez vai aumentar ainda mais as reações fisiológicas reforçando assim os pensamentos catastróficos, o que gera um ciclo de ansiedade e aumento destas sensações.

Pesquisas sugerem que o TP tem componentes biológicos e psicológicos que interagem entre si. Recentemente, estudos apontam que pessoas com baixa tolerância às respostas normais do corpo e respostas psicológicas ao estresse, e suas respostas disparam ao mínimo sinal de estímulos.

Alguns pesquisadores sugerem que pessoas com TP podem não ser capazes de utilizar substâncias naturais do seu próprio corpo que reduzem a ansiedade.

Reconhecer que sofre de transtorno do pânico e encará-lo como doença real, é um primeiro passo para o tratamento. Muitas pessoas acreditam que o problema exista por sua própria culpa e cabe ao profissional reassegurar que não existe culpado e que o problema é causado por componentes biológicos.

O tratamento deve ser acompanhado por profissionais capacitados para tanto através de psicoterapia e algumas vezes com recursos medicamentosos, tendo consciência dos efeitos colaterais que este pode acarretar, incluindo a dependência. Por isso este tratamento deve ser cuidadosamente acompanhado e sempre conjuntamente com psicoterapia. O tratamento apenas medicamentoso aumenta a chance de recaída em relação aos pacientes tratados concomitantemente à psicoterapia. Há também a possibilidade de tratar-se apenas com psicoterapia especializada.

Os remédios mal administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao invés de ajudar a pessoa a superá-lo.

É possível encontrar melhora para o TP quando a pessoa pode voltar a sentir-se identificada com seu próprio corpo, influenciando, assim, seus conteúdos internos, podendo interagir com os outros à sua volta e lidando de maneira mais satisfatória com os sentimentos e fatores internos que precipitaram o pânico.

Saber mais sobre o TP pode ajudar a superar o medo, o embaraço e o cepticismo sobre o tratamento. Encorage-se, busque ajuda e verá que pode fazer uma grande diferença no seu modo de vida.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Imagem corporal e seus distúrbios

O conceito que cada pessoa faz de seu próprio corpo, sendo este real ou fantasiado, denomina-se imagem corporal.

Para ter uma consciência corporal, necessita-se do conhecimento tanto das estruturas anatômicas e relações entre as partes, bem como dos movimentos e das funções de cada parte, também em relação aos objetos e posição espacial.

A auto-estima pode influenciar na consciência corporal, e esta é constituída por três aspectos:

- Residual do narcisismo infantil, ou seja, é quando o afeto está voltado para si, para o próprio corpo, aspecto essencial e matriz da imagem corporal;

- Experiências e realizações dos indivíduos, modo como o corpo se apresenta, seja no visual, impressão tátil, térmica, dolorosa ou na sensibilidade, porém não só a partir destas sensações em si, mas quando permeadas de significados afetivos e cognitivos.

- Núcleo central da personalidade somada à autopercepção e auto-estima constitui a base da noção da própria identidade. Reflete a historia de uma vida, o percurso de um corpo.

Atualmente, há uma obsessão pelo corpo que está investido de libido, e adapta o individuo ao mundo através da sedução, o que leva à solidão, angústia, sensação de vazio e de depressão.

Existem características que promovem uma distorção na imagem corporal, tais como a hipocondria, anorexia, bulimia, intersexualismo, automutilação, ortorexia, vigorexia, depressão, esquizofrenia, transtornos sexuais, estética, dor crônica, dor psíquica, distúrbios psicomotores, stress, velhice, doenças, amputações, traumas, erotização precoce, afetos, transtorno dismórfico corporal e transtorno conversivo.

O transtorno dismórfico corporal caracteriza-se por uma preocupação com um defeito imaginário ou exagerado da aparência física, a anomalia física pode estar ou não presente, mas a preocupação com este pequeno defeito (acne, queda de cabelo, rugas, cicatrizes, manchas, palidez ou rubor, entre outros) é excessivamente acentuada.

O transtorno conversivo é a presença de sintomas ou déficits inexplicáveis, que afetam a função motora ou sensorial voluntária, pode gerar prejuízos na coordenação, paralisia ou fraqueza localizada, afonia, dificuldade para engolir, sensação de nó na garganta e retenção urinária.

O indivíduo é formado de físico, mental e emocional, e para que eles funcionem bem, precisam estar em harmonia entre si. Um corpo tenso e rígido pode ser reflexo de uma mente sem energia e cansada, podendo gerar angústia, depressão, ansiedade, choro e vice-versa.

Na medida em que se vive em uma sociedade com ritmo repetitivo e estressante, as informações de tensão e stress são gravadas em nossa mente e em nosso corpo, condicionando-se a viver de forma mecânica até que o corpo começa a dar sinais de que o organismo está em crise, manifestando-se em doenças das mais variadas como citadas acima.

Quando se percebe isso, é preciso aprender a viver respeitando os próprios limites, um exemplo é “ensinar” a mente e o corpo a relaxar através da compensação, ou seja, estimular o corpo a fazer diferente do que está acostumado, tanto para despertar partes adormecidas, mas também para desenvolver a força de que se é capaz, geralmente desconhecida por não explorá-la o suficiente ou de forma inadequada.

Pode-se alcançar o perfeito equilíbrio do organismo e a consciência corporal, através de uma nutrição adequada, técnicas específicas corporais, técnicas imaginativas, esportes e condicionamento físico supervisionado, grupos de apoio, técnicas expressivas e psicoterapia, individual, familiar ou grupal.

É importante nutrir-se interiormente, reinvestir-se afetivamente, resgatar valores positivos, comprometer-se com a vida, praticar a resiliência, inclusão, solidariedade e o amor, para então viver em harmonia consigo e com o outro.

domingo, 27 de junho de 2010

Filhos adolescentes. Como lidar com esta fase?

Adolescência... Idade de muitas mudanças tanto para os próprios jovens, quanto para seus pais e familiares. Como resolver os principais conflitos que surgem nessa relação durante este período?

Primeiramente, de acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a adolescência vai dos 10 até os 20 anos de idade. No Brasil, segundo o Estatuto da Criança e do adolescente, a faixa etária é de 12 a 18 anos de idade.

Sabemos que cada pessoa se desenvolve em um ritmo diferente, portanto a adolescência pode ser considerada não pela faixa etária (estabelecida pela média), mas sim como um período do desenvolvimento humano correspondente às alterações hormonais, físicas, sociais e psicológicas que afetam todas as instâncias que rodeiam este adolescente, ou seja, da puberdade que inicia a maturação sexual, até a idade adulta em que uma identidade já está estabelecida de acordo com seus valores, e cada um vai vivenciar esta fase de uma maneira muito peculiar.


Neste período, as descobertas das suas próprias opções, as inserções sociais através da inclusão em uma determinada tribo ou grupo que tenha a mesma afinidade, o contato com a sexualidade, experimentar coisas novas (incluindo as drogas lícitas e ilícitas).

A dualidade entre sair da infância e viver a vida adulta causa no psicológico uma grande confusão de ações e pensamentos que geram muitas vezes as brigas com os pais.

Por sua vez, os pais sempre acham que eles erraram em algum ponto e se culpam pelo filho ser rebelde em alguns ou em todos os momentos. O principal ponto a ser trabalhado na relação pais e filhos, é a comunicação!

Quando se contrapõe às solicitações dos filhos, a tendência é contrariar. Quando se permite que o filho faça o que quiser, ele sempre vai agir de modo rebelde como um pedido desesperado de atenção e limite por parte dos pais. O que quero dizer, é que se deve haver equilíbrio nesta relação, poder de negociação e argumentação plausível para não permitir que o filho faça algo que os pais acham indevido.

Mesmo com todas essas dicas, existem situações que são realmente inusitadas e delicadas, e até os pais mais pacientes podem se desequilibrar quando se deparam com elas.

Descobrir que os filhos usam drogas ou estão fumando cigarros, pretende parar de estudar, engravida, aparece em casa embriagado, é homossexual, tem más companhias ou namora pessoas muito mais velhas, conta sobre sua primeira relação sexual... Enfim, muitas destas situações são desconcertantes para muitos pais, e podem levá-los a tomar atitudes extremas, como brigar, gritar, acusar e menosprezar julgando suas atitudes, começa a mexer em suas coisas tentando investigar o que está acontecendo e nunca tire conclusões precipitadas sem ter certeza daquilo que está acontecendo.

Quando o filho ou filha tem a liberdade de contar o que está acontecendo, elogie pela sua atitude e coragem, porém, se precisar ser enérgica para não se repetir, não hesite, mas não se esqueça de falar em tom de conversa explicando sempre os principais motivos por não querer que ele faça novamente, ou então alertando dos problemas que podem ocasionar e as conseqüências futuras, sempre deixando o caminho receptivo para a conversa.

Em caso de filhos usuários de drogas e álcool, ofereça ajuda e apoio, se necessário, busque um profissional para que possa melhor orientá-lo do que fazer nesta situação, mas nunca o humilhe nem agrida seu filho, este é um momento delicado em que ele precisa de apoio principalmente da família.

Já a homossexualidade não é doença como ainda se pensa, mas sim uma opção de vida sexual de seu filho, lembre-se que até vocês pais descobrirem, ele deve ter passado por momentos muito difíceis para enfrentar o preconceito até a decisão de se assumir.

Para os pais, quando o filho comunica que quer parar de estudar, parece que o mundo desabou! De imediato, vem a vontade de falar que seu filho não terá futuro, que é um imprestável, humilhá-lo em todos os sentidos, mas será que não vale a pena ouvir o que ele tem a dizer? Um dos motivos que pode levar a um jovem pensar em desistir de estudar é a violência que ele talvez sofra dos colegas de sala, o chamado bullying.


Enfim, em todos os casos em que os pais se sintam inseguros e em situação na qual não se sabe como agir, o melhor a fazer é manter a calma e saber sobre as motivações que levaram o filho a tomar determinada atitude, sempre respeitando seu ponto de vista, afinal, é assim que a identidade se constrói para que se torne um adulto confiante, seguro de si e responsável.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Gestação na adolescência

Este assunto ainda é tabu para a sociedade. Foi-me solicitado para conceder uma entrevista para o Jornal Guarulhos Hoje.
Segue a entrevista na íntegra.
  
Guarulhos Hoje: De que forma a TV e a mídia em geral interfere no comportamento sexual dos adolescentes? De que forma você avalia essa situação?

                                                               
Danielle: Não dá para generalizar que a mídia pode interferir negativamente sempre. A questão é que o adolescente está na faixa de transição entre a infância e a fase adulta, o que pode confundir os limites do que é aceitável para a idade ou não. Em diversos horários, a televisão, por exemplo, em novelas, transmite cenas eróticas e sensuais, o que estimulam a sexualidade desses adolescentes. A informação e instrução devem partir da família e propor seus limites, além de encarar de forma natural a sexualidade. Os meios de comunicação poderiam também abrir mais espaço para instrução, prevenção e cuidados a esse respeito, não apenas em alguns poucos momentos, mas expandir sua programação para questões educativas não só sobre sexualidade, mas também sobre comportamento e outros assuntos de interesse público.

Guarulhos Hoje:
O que uma gravidez fora de hora muda na cabeça de um casal de adolescentes? Para a menina é sempre mais complicado ou nem sempre?

Danielle: Existe conflito e sofrimento para todos os envolvidos no caso de uma gravidez precoce.  A gravidez obriga ao adolescente amadurecer precocemente, deixar o papel de filha ou filho e assumir o papel de mãe ou pai. Mas como ser mãe/pai se a própria maturidade emocional, psicológica, financeira e física ainda não foi alcançada? É justamente por isso que a gravidez nesta fase da vida é tão complicada. Para a menina, ocorre a culpa por ter traído a confiança dos pais e o medo de ser desamparada por eles ou pelo namorado, faz com que o conflito seja maior ainda. A mudança do corpo feminino na gravidez, causa, principalmente na adolescente que mal se acostumou com o novo corpo em transformação, vê sua imagem corporal distorcida e muitas vezes desiste de todos os objetivos e sonhos futuros. Alguns casais adolescentes que passam por essa situação, acabam casando-se precocemente e na maioria dos casos acabam separando-se muito rapidamente também. A grande responsabilidade de cuidar das contas no fim do mês, falta de oportunidade de se divertir além do trabalho natural que cuidar de uma criança exige, ajuda o casal a entender que a vida real é bem diferente.

Guarulhos Hoje: Que complicações e riscos que uma mãe adolescente pode ter na gravidez que uma mãe não adolescente tem menos chances de ter?  

Danielle: A gravidez pode gerar complicações psicológicas, por exemplo, a depressão pós-parto, pode ocorrer em qualquer idade, o maior conflito na adolescência quando se depara com uma gravidez indesejada é principalmente o temor que a mudança vai gerar em todo o complexo familiar e na vida deste casal adolescente. O medo de ser abandonado pela família, a falta de instrução e apoio dos pais e do próprio namorado desta garota podem agravar algumas questões psicológicas. Outras questões estão no âmbito do próprio crescimento, desenvolvimento emocional e comportamental, algumas vezes a desistência de continuar estudando, além de complicações durante a gravidez e no parto pelo próprio corpo ainda não estar totalmente preparado e desenvolvido para esta gravidez.

Guarulhos Hoje: E na família dos jovens pais, qual a mudança que acontece? O que os pais desses jovens devem ou não devem fazer em relação à gravidez?

Danielle: Quando a família descobre essa gravidez, o mais importante é o apoio ao adolescente. Fazer o pré-natal desde o início da gestação e receber o auxílio de um profissional de saúde, como por exemplo, psicólogos e assistentes sociais que tranqüilizam e amenizam a ansiedade da adolescente, diminuindo a possibilidade de depressão e outras problemáticas que decorrem dessa gravidez precoce. O diálogo entre pais e filhos não pode restringir-se a falar sobre o uso de preservativo, mas também das conseqüências possíveis do não uso, que envolve a gravidez precoce e muitas doenças venéreas. Os pais precisam preparar-se com o conhecimento a respeito do tema para lidar com esse assunto que para muitas famílias ainda é um tabu, porém faz toda a diferença para o adolescente sentir-se seguro emocionalmente para tomar suas próprias decisões. Depois de engravidar, não adianta a família se desesperar, recriminar ou desamparar esse adolescente, só vai piorar as condições emocionais dele, é nesse momento que ele mais precisa do apoio e compreensão para passar por essa questão de forma mais tranqüila possível.

Guarulhos Hoje:
Qual a melhor maneira de se abordar a questão do sexo com os adolescentes? É em casa, na escola, ou em algum outro ambiente?

Danielle: Cabe ressaltar que em muitos casos de gravidez na adolescência, alega-se que apesar de ter o conhecimento dos métodos contraceptivos, esses adolescentes deixam a cargo da sorte e aproveitam o momento de prazer que a relação sexual proporciona. O diálogo aberto e sem restrições favorece para o amadurecimento e compreensão da realidade por parte desses adolescentes. Portanto, tanto a família tem papel fundamental para a educação sexual dos filhos, quanto a escola também deveria ter um programa de orientação para seus alunos com grupos de discussão e palestras constantes. A conversa que o adolescente tem entre eles, até pode ajudar, mas um sabe tanto quanto o outro sobre o assunto, então se tiver algum adulto que confie e saiba do assunto para poder tirar as suas dúvidas também é um modo de conhecer sobre a sexualidade.

Guarulhos Hoje: Muitos pais se preocupam com a possibilidade da menina engravidar novamente e isso, de acordo com pesquisas, é uma coisa muito comum de acontecer. De que forma os pais devem alertar seus filhos sobre este risco?

Danielle: O alerta a uma segunda gravidez pode ser feita do mesmo modo que na prevenção. Quando isso acontece, ou a adolescente ainda não conseguiu perceber o quanto ela deve ser responsável para cuidar desse bebê, ou quando a personalidade dela é inclinada ao risco, ou sua auto-estima está comprometida, e acaba atribuindo seu sucesso à sorte e seu fracasso às limitações que acredita ter, outras vezes, é para chamar a atenção dos pais. Vale, nestes casos, consultar um profissional adequado para trabalhar esses pontos frágeis na personalidade e no emocional dessa adolescente.

sábado, 12 de junho de 2010

É Ela! É Ela! É Ela! É Ela!

E hoje é dia dos namorados!
Ah! O Amor..........
Este poema de Álvares de Azevedo retrata o amor puro, sem floreios, sem máscaras, de uma beleza que não é a que ilustra capa de revista, de um desejo interno, de uma emoção verdadeira pelo que é a pessoa e não o que representa.

É ela! É ela! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou - é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura -
A minha lavadeira na janela!

Dessas águas-furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! Que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adromecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido...

Oh! de certo... (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela... que amanhã de certo
Ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! É ela! - repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! Meu Deus! Era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas
Se achou-a assim mais bela - eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camizinhas!

É ela! É ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! É ela! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou - é ela!

Autor: Manuel Antônio Álvares de Azevedo

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Estresse no início da vida pode modificar os genes e o comportamento, diz estudo

Estresse no início da vida pode modificar os genes e o comportamento, diz estudo
11 de novembro de 2009 (Bibliomed). Um estudo alemão recentemente publicado na revista científica Nature Neuroscience indica que o estresse nos primeiros anos de vida pode ter um impacto significativo nos genes, podendo resultar em problemas de comportamento. A partir de testes com ratos, os cientistas descreveram que os pequenos estressados produzem hormônios que modificam os genes, o que afetaria o comportamento ao longo da vida.
No estudo, os pesquisadores separaram os filhotes das mães três horas por dia durante dez dias. "Foi um estresse muito leve, e os animais não foram afetados em nível nutricional, mas eles se sentiram abandonados", explicaram os autores. E eles notaram que aqueles que haviam se sentido dessa forma no início da vida eram menos capazes de lidar com situações estressantes ao longo da vida, além de apresentarem pior memória.
De acordo com os autores da pesquisa, esses efeitos são causados por "mudanças epigenéticas", em que a experiência estressante muda o DNA de alguns genes. E esse processo ocorreria em dois momentos: quando os filhotes são estressados, produzem altos níveis de hormônios do estresse; e esses hormônios "ajustam" o DNA de um gene que codifica um hormônio específico do estresse chamado vasopressina. "Isso deixa uma marca permanente no gene da vasopressina", explicou o cientista Christopher Murgatroyd, destacando que "esse gene é programado para produzir altos níveis desse hormônio ao longo da vida".
Na pesquisa, os cientistas mostram que esse processo envolvendo a vasopressina está por trás de problemas de comportamento e de memória. Quando eles deram, aos ratos adultos, drogas que bloqueavam os efeitos do hormônio, o comportamento dos roedores voltou ao normal.
Os autores acreditam que os resultados dos testes com ratos possam ser replicados em humanos, e eles já estão investigando como o trauma na infância pode levar a problemas como depressão. "Há forte evidência de que adversidades como abuso e negligência durante a infância contribui para o desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como a depressão", destacaram. "Isso ressalta a importância do estudo de mecanismos epigenéticos nos distúrbios relacionados ao estresse".
Fonte: BBC News. 08 de novembro de 2009.

Texto retirado do site da SOBAB - www.analisebioenergetica.com.br

quinta-feira, 10 de junho de 2010

É Preciso Não Esquecer Nada - Cecília Meireles

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.
  Autor: Cecília Meireles

"POR QUE AS PESSOAS SOFREM"

Quantas vezes na vida as pessoas tentam ser o que não são e insistem em caber em um grupo, lugar, jeito, corpo, imagem... Será que não seria mais fácil ser apenas quem somos? Será que não é mais fácil entender o que queremos do que querer algo que o outro quer?
Este singelo texto que citarei a seguir, retrata de forma muito delicada, porém consistente o que as pessoas  fazem com a vida.  
O texto abaixo foi recebido por mim via e-mail através do site do Padre Marcelo Rossi. www.padremarcelorossi.com.br.
A netinha pergunta a vovó:
- Vovó, por que as pessoas sofrem?
- Como é que é ?
- Por que as "pessoas grandes" vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa ?
- Bem, minha filha, muitas vezes, porque elas foram ensinadas a viver assim.
(silêncio)
- Vó...
- Oi...
- Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal?
Não consigo entender.
- Por que elas não percebem que não foram ensinadas a serem infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim.
Você não está entendendo, não é, meu amor?
- Não, Vovó.
- Você lembra da historinha do Patinho Feio?
- Lembro.
- Então... o patinho se considerava feio porque era diferente de todo mundo.
Isso deixava-o muito infeliz e perturbado, tão infeliz que um dia ele resolveu ir embora e viver sozinho.
Só que o Lago que ele procurou para nadar tinha congelado, e estava muito frio.
Quando ele olhou para seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne.
E assim se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.
(mais silêncio)
- O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
- Bem, quando nascemos, somos separados de nossa "natureza-cisne".
Ficamos como patinhos, tentando caber no que os outros dizem que está certo e passamos muito tempo tentando
virar patos.
- É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
- Isso! Viu como você é esperta?
- Então é só a gente perceber que somos cisnes que tudo dá certo?
(engasgou)
- O que foi vovó?
- Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim.
Você lembra o que o patinho precisava fazer para se enxergar?
- O que?
- Ele primeiro precisava parar de tentar ser um pato.
Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é.
Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
- Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
- Passou frio e ficou sozinho no inverno.
- É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
- Como é, minha filha?
- Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele.
Outro dia ele estava chorando no banheiro... (emudeceu durante algum tempo).
Essas crianças...
- Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
- Todos nós somos, querida.
- Ele vai descobrir quem ele é de verdade?
- Vai, minha filha, vai.
Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós.
Temos que procurar ajuda até encontrarmos.
- E aí, viramos cisnes?
- Nós já somos cisnes.
Apenas não deixamos que o cisne venha para fora, e tenha espaço para viver.
(A menina deu um pulo da cadeira).
- Aonde você vai?
- Vou contar para o papai, o cisne bonito que ele é.
A boa vovó apenas sorriu!
Que um dia possamos descobrir o BELO CISNE que existe dentro de nós.

Aprendamos a ser cisnes, gansos, avestruzes e por que não patos?! Mas que seja coerente, que seja verdadeiro, que possamos manter nossa imagem exatamente como somos, não como os outros querem...